domingo, 20 de novembro de 2011

Cariocas transformam suas casas em cama e café

Hospedagem domiciliar pode ser alternativa a turistas durante eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas
Matéria do O GLOBO MORAR BEM
A produtora de eventos Flávia Rodrigues transformou a casa em Cama e Café há dois anos, em momento de dificuldade financeira. Hoje, curte receber os turistas Foto: Ângelo Antônio Duarte
A produtora de eventos Flávia Rodrigues transformou a casa em Cama e Café há dois anos, em momento de dificuldade financeira. Hoje, curte receber os turistas Ângelo Antônio Duarte
Viajante quase profissional, a fotógrafa Viviane Ponti nunca gostou da impessoalidade dos hotéis e em suas andanças pelo mundo sempre optou por se hospedar em Bed & Breakfast (ou casas tipo cama e café, em bom português). Há quatro anos, teve um estalo: por que não fazer isso na própria casa e melhorar a renda? A ideia deu tão certo que, hoje, ela aluga o segundo quarto do apê onde mora por períodos curtos, sempre para atingir uma meta financeira. E cuida de outros oito quarto e sala, todos na Zona Sul. Os donos? Quase sempre turistas, que se encantaram pelo Rio, decidiram investir na cidade e deixaram nas mãos dela a tarefa de alugar, por temporada, os apartamentos.
— E este ano nem tive baixa temporada. Fiquei com todos os apartamentos alugados, sem poder tirar férias — conta a fotógrafa, que, por trabalhar em casa, costuma escolher para quem vai alugar o segundo quarto. — Prefiro períodos curtos para manter minha privacidade — ensina.
A história mostra como esse mercado anda aquecido no Rio. Pudera. Segundo o Ministério do Turismo, este ano, até setembro, o número de turistas que visitaram o país cresceu 15,5% sobre o mesmo período de 2010. Foram 1,6 milhão de estrangeiros ano passado, no Rio, no maior fluxo desde 2006. Pioneira no sistema no Brasil, a rede Cama e Café começou em 2003 com 20 casas em Santa Teresa. Hoje, são 80 em toda a Zona Sul, e a procura pela inscrição no sistema não para de crescer — 40% ao ano, desde que o país foi anunciado como sede das Olimpíadas, calcula Carlos Magno, um dos donos:
— Temos um banco de dados com 600 novas casas cadastradas, aguardando apenas o lançamento de nosso novo site, previsto para dezembro, para entrar na rede.
A chegada ao país de sites como Airbnb e Wimdu, que fazem a ponte entre morador-locador e turista-locatário, facilitou esse tipo de negócio. Os intermediários funcionam como chancela para o turista e dão certa segurança ao carioca, que passa a ter garantia de receber o aluguel, além de um seguro em caso de danos causados pelos inquilinos temporários.
Moradora de um amplo e acolhedor apartamento de três quartos em Santa Teresa, Flávia Rodrigues entrou para o Cama e Café há dois anos, num momento de dificuldade financeira. Sem fazer qualquer investimento, já que tinha acabado de se mudar e o apartamento estava em perfeito estado, ganhou uma renda extra.
— Eu não precisei investir nada, e o dinheiro extra me ajudou muito — conta Flávia, que hoje continua no negócio pela troca de experiências com os turistas que recebe.
Em média, são dez dias de ocupação por mês, o que permite que ela pague até metade do seu aluguel. Já a aposentada Malu L. viu sua renda quadruplicar desde que começou a alugar o segundo quarto de seu apartamento tipo casa, em Ipanema:
— Já fazia isso informalmente para amigos. Mas, com Copa e Olimpíadas, há um ano e meio, resolvi melhorar o quarto e investir realmente nisso.
Os dois eventos são, sem dúvida, os grandes propulsores desse movimento crescente de hospedagem domiciliar. Afinal, a expectativa do governo é que só o Rio, apenas durante o mundial, receba mais de 410 mil turistas do exterior. Número bem superior aos 31.394 quartos que a rede hoteleira da cidade deverá ter disponíveis até o fim de 2013.
Para Jakob Kerr, gerente de comunicação do site Airbnb, esse tipo de comunidade on-line permite que os moradores possam aproveitar diretamente a oportunidade que eventos como OIimpíadas e Copa do Mundo trazem. Não à toa, segundo ele, o Rio é, entre as 17 mil cidades de 190 países onde o site está presente, um dos mercados que mais cresce.
Já Alexandre Veiga, CEO do site Wimdu nas Américas, os cariocas começam a aprender a fazer de forma estruturada, pela internet, algo que sempre fizeram informalmente em datas específicas, como o réveillon e o carnaval, quando muita gente já aluga a própria casa para temporada.
O potencial de crescimento do mercado carioca para os próximos anos, aliás, faz do Rio a menina dos olhos de Veiga. Só durante o Rock in Rio, a taxa de ocupação das propriedades cariocas cadastradas no site chegou a 98%. Ocorre que elas passam agora por uma reavaliação e, das 500 que havia até a semana passada, 150 permanecem on-line. Mas, nas próximas semanas, esse número deve dobrar.
— Nós estamos reavaliando os cadastrados para evitar problemas. Até porque queremos chegar a cinco mil propriedades no Brasil até abril do ano que vem, e um quarto delas deverá ser no Estado do Rio, onde queremos ter somente propriedades de alto nível — afirma Veiga.
Aos interessados em entrar para o negócio, é bom lembrar: contratos de aluguel geralmente proíbem a sublocação, assim como algumas convenções de condomínio.
— Esse é um mercado paralelo e informal, não regulado. Não está sujeito, portanto, à lei de locações, dada a falta de previsão. Muitas convenções, contudo, proíbem tal prática, e nesse caso, a punição, com multa ou a retirada da pessoa, se daria através de ação do condomínio. Inquilinos também podem ser despejados — alerta o advogado Hamilton Quirino.

Um comentário:

  1. Este é o momento de investir em um imóvel e ter um agradável rendimento quando chegarem os Eventos do Rio de Janeiro (Copa 2014 e Olimpíadas 2016).

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