terça-feira, 9 de outubro de 2012

Se 70% do emprego formal da região metropolitana estão na cidade do Rio, uma prioridade maior deveria ser a de transformar o trem suburbano em metrô de superfície



O exemplo londrino

O Globo, Opinião, 09/out


Para um atleta, uma das estratégias na preparação para as Olimpíadas é a de analisar exaustivamente os concorrentes e suas performances em competições anteriores. O mesmo vale para quem vai organizar os Jogos de 2016. A recém-encerrada 30ª edição do evento, em Londres, foi muito bem executada. Os organizadores conseguiram superar a desconfiança inicial de parcela significativa da população e evitaram o esperado tumulto no trânsito e nos aeroportos e o caos no metrô. Um exemplo para o Rio se espelhar e aprender. No turismo, considerou-se o desempenho londrino bom, mas abaixo do que nós esperamos que ocorra aqui.
O balanço final do comitê organizador foi positivo, com um lucro de 16 bilhões de libras e 900 mil turistas circulando no período das competições. Dos visitantes, 300 mil eram de fora do Reino Unido.
Apesar disso, quem passava pelas áreas centrais da capital inglesa na primeira semana tinha a impressão de circular em uma cidade fantasma. Museus, prédios históricos e outras atrações, geralmente concorridas, registraram uma redução de 35% de público, em comparação com a alta temporada de anos anteriores. Não corresponde exatamente à expectativa que criamos para o Rio.
Bares e restaurantes festejaram um crescimento de 24% no movimento. A ocupação hoteleira girou na faixa dos 85%. Comparados com o réveillon e o carnaval do Rio, são índices modestos, mesmo com a enorme diferença na estrutura hoteleira nas duas cidades. Os meios de comunicação britânicos informaram que, em abril, a hotelaria reajustou os preços da tarifa em até 300%. Assustou hóspedes e afetou sua imagem no exterior. Lembra muito o dano à reputação do Rio nos meses anteriores à realização da Rio+20 pelo mesmo motivo.
Estudos comprovam que o turista olímpico costuma voltar à cidade depois, para descobri-la melhor, sem pressa e sem economia. Nesse caso, precisaremos oferecer mais incentivo, além da alegria do povo e da bela paisagem. Investir no treinamento de quem ficará na linha de frente com o visitante é essencial. Não falo apenas de garçons, camareiras e atendentes em bares e hotéis. É fundamental formar e orientar guias turísticos, taxistas, guardas municipais e voluntários. Em Londres, a experiência foi muito elogiada.
Assim como o governo inglês, o prefeito Eduardo Paes vem incentivando os cariocas a mudar a rotina de horários e, mais, deixar a cidade, se possível, durante os tantos eventos que o Rio vai sediar. A intenção é a de não piorar o já complicado trânsito na metrópole. Para isso, o investimento no transporte público torna-se condição essencial ao sucesso da Rio 2016.
Se 70% do emprego formal da região metropolitana estão na cidade do Rio, uma prioridade maior deveria ser a de transformar o trem suburbano em metrô de superfície, para tornar mais eficiente a ligação entre as regiões Oeste e periféricas e a Barra da Tijuca. Seria importante também articular a chegada do metrô ao Aeroporto do Galeão. O exemplo de Londres, que sempre deu preferência aos trilhos, é definitivo.
PEDRO DE LAMARE é presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurante do Rio.

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