quinta-feira, 21 de março de 2013

Região de Itaguaí pode ver população quase triplicar e ter inchaço maior que Macaé


O peso dos investimentos

O Globo, Henrique Gomes Batista e Marcello Corrêa, 21/mar


O crescimento esperado com os novos investimentos da Petrobras, portos e o Arco Metropolitano vai fazer a região de Itaguaí ter um crescimento de três a quatro vezes mais que Macaé cresceu quando começou a exploração de petróleo na área. Estudo inédito da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), que será divulgado hoje, indica que a população da cidade e dos municípios de Japeri, Mangaratiba, Mesquita, Nova Iguaçu, Nilópolis, Paracambi, Queimados e Seropédia passará dos atuais 1,6 milhão de pessoas para algo entre 3,5 milhões e 4 milhões de habitantes.
O estudo estima o impacto na região em um horizonte de cinco a 15 anos, levando em conta os novos portos que estão sendo construídos em Itaguaí (Superporto do Sudeste e a ampliação de outros terminais), a proximidade com o Comperj, que pode fazer com que a região se transforme no porto do pré-sal, a conclusão do novo Arco Metropolitano e a concentração de atividades da Petrobras e de empresas de logística na região. O documento indica que a atuação da Petrobras na região tende a ser maior que a estrutura que a estatal tem hoje em Macaé e alerta para a necessidade de investimentos em infraestrutura.
Riley Rodrigues, especialista em Competitividade Indústria e Investimentos da Firjan e responsável pelo estudo, explica que prevenir sai mais barato que remediar.
- O primeiro passo para a região é a criação de um plano diretor regional, que ordene este crescimento e preveja os investimentos necessários para ampliar a infraestrutura da região. Se feitos previamente, os investimentos saem a um custo 20% menores que quando feitos para atender a demanda já estabelecida. A região tem cerca de cinco anos para se preparar para o início mais forte do impacto destes novos projetos - afirmou.
Rodrigues lembra ainda que a região precisa contar com melhorias na rede de gás e energia e melhorar o ordenamento habitacional, com obras pesadas de saneamento básico e moradia, para se evitar a favelização da região. Além disso, será necessário melhorar a gestão ambiental dos municípios e aumentar a escolarização e a qualificação de mão de obra da região:
- Grande parte destes investimentos cabem aos governos estadual e federal, além de empresas privadas. Mas cabe aos municípios se organizarem e buscarem estes recursos, alguns até já disponíveis, como o Minha Casa. Minha Vida - afirmou o pesquisador.
No entorno do Porto de Itaguaí, que somente em 2012 movimentou mais de e 57 milhões de toneladas de carga, o péssimo estado das vias de acesso ao terminal, com muitos buracos, é um exemplo do tipo de desafio que a cidade enfrentará.
Itaguaí já vive uma onda de crescimento, com investimentos de empresas como MMX, Vale e Odebrecht. A população local cresceu 33% em dez anos, chegando a quase 110 mil habitantes. É uma cidade bem diferente da encontrada pelo aposentado Geraldino Santos Conceição, de 72 anos, que chegou ao município há 25 anos.
- Quando me mudei do Rio para cá, não tinha nada. Nos últimos cinco anos cresceu muito, mas também aumentou a violência - contou Geraldino.
O comércio também vive um misto de impactos positivos e negativos. Se, com mais gente na cidade, há mais movimento, a especulação imobiliária é um problema, afirma a Associação Comercial Industrial e Agro-Pastoril de Itaguaí (Aciapi).
Para o professor de economia da UFF Leonardo Muls, cuja tese de doutorado é sobre o desenvolvimento de Itaguaí, é importante que a renda gerada pelos empreendimentos seja absorvida pela economia local, por meio de estímulos ao trabalhador que chega à cidade.
- Normalmente, nem material de escritório eles (os grandes empreendimentos) compram em Itaguaí. É preciso estimular a mão de obra local.
O estudo da Firjan também aponta a necessidade de adequação logística e de mobilidade, como a extensão da Via Light e do ramal de trem de passageiros de Santa Cruz até Itaguaí:
- Algumas destas obras estão prontas para serem feitas, como a extensão da Via Light, orçada em R$ 350 milhões e já com licenciamento ambiental aprovado - afirmou Rodrigues.
Segundo a Firjan, quando concluído, o Arco Metropolitano reduzirá em até 20% os custos de transporte para o Porto de Itaguaí. Muls, da UFF, lembra que a população flutuante pode ser outro problema.
- O anúncio de grandes projetos atrai uma população de fora, e nem sempre esses empreendimentos se concretizam - explicou, destacando o inchaço dos anos 1990, quando o crescimento do município ultrapassou o do Estado do Rio.


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