segunda-feira, 15 de julho de 2013

Plantas livres ganham espaço

O Globo, Raphaela Ribas, 14/jul


Construtoras investem cada vez mais na flexibilização dos imóveis
Se antes para mudar a planta de um apartamento era preciso enfrentar meses a fio de obras, sujeira e bagunça, agora a tendência é que o morador entre na nova casa com as paredes colocadas onde ele quer. Cada vez mais, o comprador já pode se mudar para um imóvel com tamanho de sala que atenda ao seu estilo de vida, número de quartos adequado ao seu perfil, enfim, pode optar por um projeto quase feito sob medida para ele.
Isso porque as construtoras no Rio estão flexibilizado cada vez mais as plantas para atender seus clientes. E uma coisa puxa a outra. Bom para os moradores, que ganham acesso a uma planta livre para moldar como queiram, e, bom para as construtoras, que conquistam espaço entre os clientes.
Flexibilidade pode encarecer unidade
O presidente da Associação de Dirigentes do Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-Rio), João Paulo Matos, explica que isso evita gastos e desgaste para ambos. Depois da estrutura já ter sido montada, nem sempre é possível fazer mudanças. Caso seja, uma nova obra vai encarecer e até mesmo atrasar a entrega do imóvel.
Na maioria das ofertas de planta livre, diz Matos, não há custos adicionais. Mas o preço final pode aumentar se o cliente optar por materiais específicos e mais caros para o acabamento. Embora boa parte destes empreendimentos sejam voltados para um público de classe de renda alta, a tendência já é marcante também à classe média.
Mário Amorim, diretor da Brasil Brokers no Rio, empresa que faz intermediações de compra e venda de imóveis, afirma que oferecer uma flexibilização na planta é um diferencial que pode ser crucial na concorrência entre construtoras e incorporadoras. E, obviamente, elas estão bem atentas a isso.
Foi exatamente com este olhar que a RCC Empreendimentos decidiu lançar uma planta 100% livre, o edifício "Platinum", no Leblon, de cinco andares, sendo que cada unidade será sustentada apenas por uma coluna.
- São oito plantas sugeridas, mas existe a possibilidade de uma diferenciada, se o cliente quiser - informa Rodrigo Conde Caldas, dono da RCC.
Além da liberdade de decidir como montar o apê, haverá no prédio um sistema de automação, pelo qual será possível comandar a casa de fora, via iPhone ou iPad. Fechar as cortinas, acender a luz, abrir a casa e monitorar alguém que esteja lá dentro são ações que poderão ser vistas via smartphone.
O preço estimado, segundo Caldas, é de R$ 35 mil o metro quadrado - ou ainda R$ 5,2 milhões, considerando-se a área de 150 metros quadrados: 10% a mais, continua ele, sobre o valor de um imóvel que não seja flexível.
Onde uma unidade não é igual à outra
Marcelo Parreira, gerente de desenvolvimento de produto da RJZ Cyrela, pontua que a empresa já vinha percebendo que a cada lançamento aumentava a procura por mudanças personalizadas:
- Não conseguíamos atender a pedidos pontuais, porque existem prazos e estrutura para construir. Se fossemos atender a todos, acabaríamos comprometendo todo o condomínio. Por isso apostamos nas plantas flexíveis.
Outra que aderiu à moda é a Calçada, em todos os prédios podem ser modificados. No "Choice" (Recreio) e no "Illimitato Residenziale" (Freguesia), lançados este ano, por exemplo, os quartos podem ser revertidos, aumentando o tamanho da sala ou a suíte do casal.
Bruno Ghiggino, responsável pelo setor de flexibilização de plantas da Even, explica que, no médio padrão, 50% das plantas da empresa são modificadas e, nas de alto padrão, 80%, a exemplo do condomínio "Royal Blue", na Barra, em que não há uma unidade igual à outra.
- Facilita muito poder mudar, com tudo do jeito que te atende, sem ter que fazer obras depois - avalia o empresário Guilherme da Silva Pereira Filho, que preferiu aumentar a sala e tirar um quarto no seu apê no Edifício "360º On The Park", da RJZ Cyrela, na Barra.
Novos imóveis refletem mudanças sociais
Salas cada vez mais amplas, cozinhas americanas e novos usos para o quarto de empregada são as principais mudanças pedidas por quem compra um imóvel e pode mexer na planta.
Os especialistas explicam que estas solicitações personalizadas são reflexos de mudanças que a sociedade passa.
Hoje, por exemplo, é muito comum as pessoas terem prazer em cozinhar para os amigos e a família nos finais de semana. É um evento íntimo e, com uma ampla sala e uma cozinha sem paredes, é possível que todos interajam durante a preparação da comida.
Para Vicente Giffoni, presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBea), os inúmeros pedidos de ampliação de salas de estar revelam um comportamento social cada vez mais crescente - o de gastar mais tempo em casa e com a família unida.
Outra mudança comum é pedir para diminuir o número de quartos do imóvel.
A razão disto que é que as famílias estão menores e a necessidade de integrar casa e trabalho é cada vez maior, seja construindo um home office ou apenas uma espaço onde possam executar suas atividades profissionais.
O quarto de empregada - tão indispensável em outras décadas - tem sido usado como depósito, ampliação da cozinha e escritório. A tendência, diz Bruno Ghiggino, da Even, é que o cômodo da área de serviço nem exista mais no futuro.
Como no de Nuno Miguel, que comprou a unidade do "Royal Blue", da Even, e transformou o cômodo em um bar que fica de frente para sala.
- Uma planta nos anos 80 tinha divisões muito diferentes. Atualmente, percebe-se uma busca de integração da área social e a planta livre favorece isso - explica Rodrigo Conde Caldas, presidente da RCC.
- Estamos em um momento de transição. As pessoas querem ficar mais em casa, e os novos imóveis atualmente atendem a esta forte tendência de unir residência, trabalho e interação - afirma Giffoni.
Na Calçada Construtora e na RJZ Cyrela, os pedidos de mudança de planta seguem a tendência do mercado e são focados, em geral, para a ampliação de salas ou para fazer cozinhas americanas.
- As famílias voltam a se reunir. Com uma cozinha aberta para a sala, as pessoas acabam passando mais tempo juntas. No que se refere aos quartos, é muito comum criar um cantinho voltado para o trabalho - afirma Marcelo Parreira, gerente de produto da RJZ Cyrela.

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